Bom... Já que eu to no clima dos Coen, decidi não perder a empolgação, e falar mais um pouco da dupla. Desde o primeiro filme Blood Simple (Blood Simple, USA, 1984) a dupla já fez 14 filmes, 14 bons filmes dentre os quais estão algumas obras primas. E é claro que todo mundo que conhece pelo menos 1 ou 2 nomes de diretor sabe que não dá pra falar de Coen sem falar da sua obra prima máxima: Onde Os Fracos Não Têm Vez. É um filme que não importa quantas vezes eu assista, eu sempre tenho um calafrio no último monólogo de Tommy Lee Jones. É também o único filme dos Coen cujo roteiro foi adaptado de um livro, em todos os outros eles que escreveram o roteiro inteiro, e fizeram um excelente trabalho, diga-se de passagem (como tudo no filme).
O filme se passa na década de 80 e trata da história de um homem, Llewelyn Moss (Josh Brolin) que encontra um bando de gente morta em um descampado em quanto estava caçando, e não demora a perceber que trata-se de uma transação de drogas que não deu certo, e como todos sabem, numa transação ter que ter dinheiro, e é exatamente isso o que o nosso corajoso, porém tolo protagonista vai procurar, e encontrar. Um pouco mais afrente nas mãos de um morimbundo que conseguiu sair vivo porém não ileso do tiroteio, só para morrer um pouco mais afrente. Acontece que o assassino Anton Chigurh (Javier Barden) é contratado para encontrar esse dinheiro, lançando assim um embate entre os 2 personagens. Bom... Agora é a vez de conhecermos o último protagonista, o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), aquele que para mim, é o personagem mais interessante da história, afinal de contas é ele quem dá sentido ao título, ele é o sherife que encontra os corpos, e é o responsável por encontrar o dinheiro, e entregá-lo para a lei, além é claro, e salvar a pele de Moss, e prender novamente Anton. Será que ele vai conseguir? Eu decidi dividir o post em 4 partes para falar de cada personagem separadamente, e por fim falar do filme como um todo. Então vamos a elas.
O Bandido
O filme abre logo com a prisão do temível matador Anton Chigurh, um maluco no sentido mais puro da palavra, que carrega consigo um cinlindro de ar comprimido. Pra que alguém vai carregar um cilindro de ar comprimido? É a pergunta que os policiais que o prenderam se fazem, e automaticamente é a pergunta que o espectador se faz. Bem... Não demora muito, e o nosso maluco favorito escapa da prisão matando os policiais, sendo que um ele estrangula... E logo de cara, na introdução pra variar, quando eu vi a cena do policial sendo estrangulado, eu pensei "Esse cara vai ganhar um oscar"(o Barden, é claro), a expressão facial que Barden faz ao executar sua primeira vítima no filme é brilhante, nessa hora já podemos perceber o quão doido é o personagem, e o quanto ele gosta de matar.
Em seguida nos é apresentada uma excentricidade do matador, jogar a moeda para decidir se mata ou não... Tipo o Duas Caras, com a diferença que é a vitimia que escolhe o lado. Bem... Comigo falando assim não dá pra ter idéia da tensão que a cena causa... Dá praticamente pra cortar o ar com uma faca, chega a um ponto que não estamos interessados mais se a vítima será executada ou não, só queremos que a cena acabe logo para que possamos respirar. Não demora muito, e também já descobrimos o método favorito do psicopata, e pra quê serve o tal galão de ar comprimido... E lá se vai a terceira vitima, com um buraco no meio da testa. Uma morte limpa e rápida, eis que percebemos que além de louco, e de gostar de matar, Anton é também extremamente eficiente. Foi mais uma cena de se tirar o fôlego, com destaque para os respingos de sangue na face de Anton, reforçando ainda mais o seu semblante de assassino implacável.
O fato é que a interpretação de Barden, deu vida ao assassino responsável por mostrar que os velhos (VELHOS e não fracos, conforme explicarei mais a frente) não tem mais vez. Como psicopata de profundida psicológica, ele dá um show de interpretação, superano qualquer expectativa que eu tivesse criado sobre o filme. De fato... Barden brilha no filme e sozinho se transforma no maior motivo do porque ver Onde Os Fracos não Têm Vez.
Além disso, o personagem foi extremamente bem construido pelo escritor, o seu galão de ar comprimido dá mais medo do que o facão do Jason.
O Mocinho
Na primeira aparição de Llewelyn Moss, ele está caçando (no tal descampado que encontra o dinheiro), ou ao menos tentando caçar, quando vemos que ele dá um tiro em um cervo e erra, já percebemos o abismo que existe entre a sua competência, que não consegue matar um um cervo com uma arma de mira fechada, e a de Anton, que mata um ser humano com aquele tal cilindro de ar. Também percebemos que ele não é muito esperto. E não digo isso por ele ter pegado a maleta com 2 milhões de dólares sabendo que era de traficantes perigosos, e que isso poderia lhe custar a vida, afinal... São 2 milhões de dólares. Percebemos que ele não é esperto pois ele volta para o local onde achou o dinheiro para dar água a um dos traficantes morimbundos... Que tipo de idiota faria isso?
Bem... No desenrolar do filme percebemos que ele não é tão incompetente, e nem tão bobo, e tem umas sacadas muito boas. O fato é que o personagem não é lá tão interessante, é ele quem dá sentido à história, mas tudo o que ele faz é pegar o dinheiro e fugir, ativando o botão de ligar de anton chigurh.
Quanto à interpretação, ela foi boa, muito boa por sinal, mas perto das interpretações brilhantes de Barden, e Jones, ela passa meio que despercebida.
O Narrador
Agora é a hora daquele que eu considero o melhor personagem, e agora é a hora de dizer que mais uma vez o título em português ficou muito inferior ao título original. O título original "No Country For Old Men" que traduzindo ao pé da letra fica "Sem lugar para o homem velho" dá muito mais sentido ao filme. Afinal de contas, como podemos dizer que Ed Tom Bell é um personagem fraco?? Ele Viveu a vida toda no mesmo lugar, lugar onde seu pai viveu a vida toda, e o pai do seu pai também, todos absorvendo e moldando seu caráter através da movimentação social de uma comunidade e ter que engolir aqueles "alienígenas" que subvertem cruel e diariamente a velha realidade, além de ter de admitir que a sua casa já não existe mais, fere o mais forte dos homens.
O que torna o personagem Bell tão interessante, é que ele está inserido num Farwest moderno, um Frawest onde não existem mais lendas, não aquele de Sergio Leone e clint Eastwood que estamos acostumados, mas um que foi tão deturpado, e degenerado, e aqueles que deveriam ser a lenda, como Ed Tom Bell, nada podem fazer. Se vêem como espectadores impotentes frente a sádicos que torturam, matam, e roubam idosos antes de enterrá-los no jardim, ou um bando de traficantes mexicanos atirando pra todo lado com suas metralhadoras, e principalmente frente a um lunático que anda por aí matando gente com um matador de gado a torto direito. O fato é que Ed Tom Bell não entende os crimes que ele lê, ou precisa resolver.
Quer dizer, até dá pra entender porque um casal finge tomar conta de idosos, e os rouba, mata e enterra no hospital, o que não cabe na cabeça do nosso velho é porque eles precisam torturar os pobres idosos antes de matá-los, e muito menos como os vizinho só desconfiaram e chamaram a polícia, quando viram um idoso correndo pela rua com algemas e correntes. Para ele parece óbvio desconfiar de gente cavando túmulos no quintal. É assim que funciona nos tempos de seu avô, é assim que funcionava nos tempos de seu pai, é assim que funcionava quando ele era mais jovem, no entanto, para seu infortúnio, não é assim que funciona agora, às vésperas de sua aposentadoria. Nos tempos modernos não existem mais lendas como pistoleiros errantes que resolvem todos os problemas com colhões e uma colt, o Farwest dos Coen
O filme
Eu devo confessar que é um peso muito grande tentar escrever a minha opinião sobre tamanha obra prima. Principalmente porque eu vi o filme pela última vez na época em que ele estava nos cinemas. No entanto, eu vou tentar. Neste filme os coen fogem da especialidade deles de comédia de humor negro, e fazem um drama. Um drama muito bem feito, sensacional, de fato, eu não consigo imaginar como conceber um filme melhor.
A maior característica da obra, é que é um filme parado, muito parado, e a coisa mais surpreendente, é que ele é bom exatamente por isso, se não fosse tão parado não seria tão bom. É como na cena de jogar a moeda, o espectador fica tenso o tempo todo, a cada minuto é criada uma nova expectativa, o espectador quer ver logo o que vai acontecer e como vai acontecer, no entando tudo vai acontecendo bem devagarinho. A gente gruda na cadeira e não consegue levantar de jeito nenhum, eu não me surpreenderia se alguém tivesse uma distensão muscular assistindo ao filme com tamanha tensão.
Outra qualidade que deve ser ressaltada, é que apesar dos Coen não seguirem o seu tema habitual de humor negro, não se engane, bem como todos os outros da dupla, o filme está impregnado de Coen, vemos marcas deles em todos os lugares, seja nos diálogos inteligentes, seja nas críticas que nos fazem pensar não na crítica em si, mas no que exatamente está sendo criticado.
Sem sombra de dúvidas, a maior obra prima dos Coen, e na minha opinião, umas das maiores obras do cinema. O filme realmente dá sentido à expressão "oitava arte". Dou 10 pro filme, eu daria mais, no entanto foi estipulado que o padrão de notas iria de 0 a 10. E é isso aí, agora na espera de "Um Homem Sério" próximo filme da dupla dinâmica que está pra estreiar nos cinemas.
O luto
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